Verão do ano de 2016.
Algures em Lisboa numa manhã de verão, tipicamente igual a todas as outras para quem trabalha no setor de restauração com horário de repartido e sem tempo de qualidade para estar com a família e amigos.
A aragem de ar quente pelo fim da manhã começava a dificultar a montagem da esplanada, era terrível trabalhar na época de calor.
Depois de vários dias de trabalho, que requer um esforço emocional acrescido e uma capacidade de interagir elevada, utilizando no mínimo as regras básicas da comunicação não verbal nos dias torbulentos e extremamente longos.
Finalmente, fomos informados que teríamos mais um elemento para a equipa. “Ufa, até que enfim, mais uma alminha para socorrer o nosso desespero de ter sempre a equipa desfalcada. Espero que não desista no fim do serviço”.
Estava longe de imaginar que esse dia seria o despertar de um sentimento genuíno que muito iria mudar a minha visão em relação ao que a vida abrupta que cada ciclo levou em relação as amizades na minha vida. Todos os acontecimentos fizeram-me desacreditar em tamanha pureza e na Grandeza que é sentir o verdadeiro amor de uma amizade como a nossa, que acredito ter existido em outras vidas e que essa conexão veio na bagagem desta nossa passagem na vida presente.
A Mads começou a trabalhar nesse mesmo dia. Uma jovem rapariga com uma luz interior como nunca vira outrora. Com uma expressão serena mas o seu olhar um tanto inquietante.
Dei por mim a questionar-me o porquê de me sentir tão interessada em saber mais sobre si. Com tantas pessoas que por ali passaram, porquê a Mads?
No decorrer do dia fomos conversando e interagindo enquanto equipa, o que deu para perceber que a Mads tinha alguma coisa que me fazia querer a sua amizade sem ter uma explicação plausível.
Somos parecidas? Ela é boa pessoa? Humilde? Compreensiva? Quais são os seus valores enquanto pessoa?
Nada… Nada sabia eu, mas quanto mais questões colocava mais vontade tinha de me aproximar. Minutos antes de terminar o turno da noite, a Mads começou a sentir-se mal e até acabou por desmaiar. Chamámos o INEM e assim foi ela para o hospital.
A minha preocupação em tempos com outros colegas era rogar para que os mesmos ficassem de perfeita saúde. Com a Mads, foi uma necessidade desesperada de a ter por perto, de a olhar nos olhos e saber que estava ali caso fosse preciso.
Sentia-me sem conseguir explicar que ela precisava de mim, mesmo sabendo que era uma total desconhecida para ela.
Fui com o nosso grande chefe Burica até ela após encerrar o restaurante.
Mantive a comunicação com a Mads por telemóvel sempre que possível. Ficámos horas na sala de espera até que o corpo começou a ceder pela madrugada e mais um dia de trabalho fatídico esperava por nós.
Acredito que nada acontece por acaso, existe sempre um porquê de acontecer determinadas coisas a nós e não aos outros.
A caminho de casa interrogava-me no sentido de perceber como é que uma pessoa tão fechada como eu sentiu tanta necessidade de aproximação de uma pessoa que a única coisa que sabia era o nome.
Após esse episódio desconcertante a nossa cumplicidade foi crescendo desmedidamente. Dias a fio em conversas sobre tudo e mais alguma coisa. Noitadas com o nosso grupo de colegas e amigos. Toda essa convivência fez com que os nossos laços se tornassem cada vez mais firmes e seguros para alcançar a verdadeira conexão que nos uniu, a conexão mental.
Uma conexão que jamais pensei em sentir por um desconhecido que acabou por ser a grande razão de acreditar que realmente existem pessoas incríveis neste mundo.
A nossa amizade/amor foram lindos pela pureza e naturalidade com que aconteceu. Guardei desde sempre todas as gargalhadas mas também todas as angústias e sofrimentos que a nossa história teve que passar para atingir uma conexão tão grande e verdadeira como temos agora.
Nunca tive alguém tão presente na minha vida sem qualquer tipo de intenção, a não ser cuidar, amar, proteger e abraçar sem justificação como te tenho a ti.
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